A Arte de Fluir com a Vida
Conta uma antiga lenda que um rei muito zeloso vivia angustiado com os problemas de seus súditos, muitos dos quais não podia resolver. Sempre que acontecia uma seca ou algum desastre de maiores proporções, o bom rei ficava desesperado. Certo dia um de seus ministros, preocupado com a saúde do soberano, trouxe à sua presença um sábio cuja reputação era de manter-se calmo em qualquer circunstância, por pior que fosse. O rei sentou-se diante do sábio e implorou: “Santo homem, ensina-me a arte de manter a calma. Ajuda-me a cuidar de meu reino sem tanto sofrimento”. O sábio, sensibilizado pelo bom coração do monarca, deu a ele um valioso anel, dizendo: “Meu senhor, dentro desse anel está o segredo da paz interior. No entanto, o senhor só deve abri-lo quando estiver realmente desesperado”. Assim dizendo, levantou-se e se foi. Os dias se passaram e uma epidemia atingiu o reino. O rei tomou todas as providências, socorreu os doentes, distribuiu dinheiro e alimentos, mas mesmo assim o sofrimento foi muito grande. Desolado, lembrou-se do anel e pensou: “Esta é uma ocasião realmente muito dolorosa. Abrirei o anel”. E assim o fez. Erguendo a tampa onde estava presa a pedra preciosa, encontrou um minúsculo papel bem dobrado. Desenrolou-o cuidadosamente e leu: “ISTO TAMBÉM VAI PASSAR” Sempre que me lembro dessa história penso na dificuldade que temos em aceitar a transitoriedade da vida. Vivemos cada situação como se fosse definitiva, apegamo-nos ao sofrimento, intensificamos a dor com nossa carga emocional negativa. E a vida segue seu curso, indiferente aos nossos desvarios e lamentações. Todas as situações se resolvem, mais cedo ou mais tarde, mesmo que a solução não seja exatamente o que gostaríamos que fosse. Há uma grande sabedoria em aceitar cada situação como um momento passageiro. Manter a calma faz com que não tornemos pior o que já não está bom. Um de nossos antigos presidentes tinha uma gaveta em sua escrivaninha onde colocava as pastas dos casos mais intrincados e lá os esquecia. Indagado da razão desse procedimento, ele disse que aquela gaveta se chamava Tempo. Eram casos que ele não podia resolver, portanto deixava aos cuidados do tempo, para que se resolvessem sozinhos. Um provérbio tibetano diz: “Se um problema tem solução, não se preocupe, ele será resolvido. Se um problema não tem solução, não se preocupe, ele já está resolvido”. Preocupar-se é viver a mesma situação repetidamente: passamos por ela e sofremos todas as vezes que nossa mente se ocupa dela, seja tentando antever a solução, seja fantasiando vários desfechos ou ainda recordando algo que já terminou. O bom aluno fica atento à lição, assimila a essência, incorpora a experiência à sua bagagem existencial e segue em frente. O mau aluno reclama, geme, adia o progresso, estaciona muito tempo na mesma lição, sofre mais e evolui menos. É importante aprender a fluir com a vida. Viver um dia de cada vez, sem ansiedade, sem angústia. Experimente viver no momento presente. Você será muito mais feliz e não desperdiçará preciosa energia. Maria Lúcia Sene Araújo